Karsten Schmidt aka toxi. Type & Form para a revista Print.

“Parametric design
It takes skill to design a chair, but it’s a step cleverer to design a procedure or computer program for making many chairs, with variations — or more specifically, to write a program or script that produces an image of a chair in three dimensions on a computer screen. Such an algorithm should then provide users with access to key parameters, such as the height of the seat, the back, the length of the armrests, etc. Varying these parameters produces different designs within a “family” of designs.”

in What’s wrong with parametricism, Richard Coyne, 2014

 

As fronteiras do design têm uma plasticidade enorme. Entre o designer/maker que percorre todo o processo desde a concepção até à execução de uma determinada peça e as grandes equipas ligadas ao design industrial de mega construções, existem as mais diversas abordagens. Esta multiplicidade faz com que a prática do design se aproxime de outras áreas. Por vezes o design está próximo da manualidade e das técnicas artesanais. Noutros contextos, a sua proximidade à engenharia é indispensável.

O reconhecimento, por vezes exagerado, desta transversalidade manifesta-se também no design thinking através do qual o discurso do design se aproxima da gestão e do marketing. Neste caso, trata-se muitas vezes de uma versão higienizada do design porque anula a sua ligação à criação e à arte para o aproximar apenas da inovação, da tecnologia, da engenharia e da gestão de processos.

Assim sendo, a palavra design pode ser dita a partir de proveniências muito díspares. Para alguém próximo das artes (muitos designers fizeram a sua formação em Faculdades de Belas Artes), design é criação, experimentação e funcionalidade articulada com um sentido estético. Para alguém com formação em ciência exactas, design é, em última instância, engenharia. Ou seja, a resolução optimizada de um problema.

Este polimorfismo do design deve ser esmiuçado para que não se construam expectativas erradas sobre o que esperar em cada contexto.

 

Algo de semelhante acontece quando olhamos para a relação que o design estabelece com a tecnologia, nomeadamente, com as ciências computacionais.

1- A forma mais usual promove um entendimento do computador como mais uma ferramenta. Ou seja, o desenho pode ser feito com um lápis ou com um determinado software. A prototipagem pode ser realizada manualmente ou resultar de um processo de fabricação digital. O que está em causa neste entendimento é o processo de design que depois pode recorrer a múltiplas ferramentas e competências, mais ou menos tecnológicas, para expressar uma determinada ideia, a do designer.

2- Uma segunda visão, reconhece o digital como um local para a prática do design. A proliferação da dupla código/computação dispersa pelas mais diversas actividades e contextos, criou necessidades imensas ao nível do design de produtos e serviços digitais. O design digital assume-se como atento às especificidades do meio e capaz de criar uma relação entre a disciplina do design e a captura digital das mais diversas áreas de actividade.

3- Por último, existem propostas interessantes onde se experimenta uma integração efectiva entre as ciências computacionais e o próprio processo de design (atente-se na citação inicial). Ou seja, procura-se ir além da ideia de que o computador é uma ferramenta neutra e explora-se como é que o código, a computação e a iteracção podem promover novas experiências e processos ao nível do design. Muitas destas experiências assentam na ideia de que existe um problema e um campo de concepção em termos das soluções a aplicar. Algo que é partilhado entre muitos processos de design e  os diferentes problemas que se resolvem através de uma solução algorítmica. Parte do processo de testar essas soluções pode ser delegado num algoritmo e o designer pode socorrer-se da capacidade computacional como uma espécie de assistente e não se limitar a replicar determinadas tarefas que haviam entretanto sido digitalizadas. Um outro exemplo diz respeito à informação, à Big Data. Nos dias de hoje, diversas empresas incluem nos seus processos de design um complexo sistema de processamento de dados. Actualmente, muitos dos serviços e dos produtos a serem desenhados nasceram de padrões que emergiram das quantidades imensas de informação que estamos a guardar a cada instante. Em cada um destas áreas (a pesquisa formal ou os processos algorítmicos de racionalização) existe um processo específico de pesquisa e de experimentação em design, assente nas tecnologias computacionais e capaz de promover caminhos e soluções diferentes.

 

Decorrente deste último ponto está uma questão que deve ser aprofundada. A experimentação tem sempre uma dimensão material. Existe um indizível em cada material que ganha expressão por via da sua conversão em forma. Não existe uma neutralidade dos materiais e das ferramentas porque estes funcionam como delimitadores virtuais daquilo que pode ou não ser actualizado enquanto forma ou ideia. A modelação digital feita através de polígonos ou de curvas delimitou campos e possibilidades formais diferentes. Uma análise cibernética da arquitectura reconhece que esta área de criação, a partir de um determinado momento, começou a gerar um conjunto de propostas formalmente muito diferentes de tudo o que havia sido feito. A descrição matemática de uma curva e a possibilidade de a trabalhar computacionalmente, representou uma mudança de paradigma em termos da criação de formas. Este é um bom exemplo de como a experimentação dialoga, não apenas com o criador, mas com os materiais e ferramentas que a suportam.